É como uma perdida. Sozinha, sem estar. Nem sei como nasceu esse meu fascínio. Encontrei-a sem ela querer ser encontrada e foi ficando. Como um fim de tarde que acaba mas mais tarde e sempre um bocado mais tarde e eterniza os dias. Há o medo de acabar, were born to die ouve-se; repete-se e ecoa depois quando acaba. Como uma actriz em decadência ou uma namorada de uma qualquer estrela de rock, não se esvai em grandes comemorações nem demonstrações de alegria, deixa-se estar como se esperasse que alguma grande calamidade há-de chegar e levar-nos a todos. Depois, espera e fica deixando esta ideia de romantismo acabado e saudoso, quase simples, He holds me in his big arms, Drunk and I am seeing stars, This is all I think of.



Fotografia de autor desconhecido.
Todas as referências a partir de Born To Die  por Lana del Rey

Música Born To Die por Lana Del Rey







Tem sido palavra recorrente nas coisas que olho, coincidências. Diz-me o dicionário estado de duas figuras que se sobrepõem. Mas o que é estar? Depois de cinco adiamentos, foi ontem que finalmente vi Love Like Coincidences. Numa boa hora da noite, no silêncio da casa. De início difícil face aos barulhos da língua pouco habituais aos meus ouvidos, um pormenor que só engrandeceu a obra. Uma história sobre a história de duas vidas. A célebre máxima nascer contigo, perder-te, encontrar-te, a morte sempre a pairar na vida. Uma história sobre o poder do passado e das coisas imutáveis que não giram à mesma velocidade da velocidade da terra. Sobre a sorte do amor nas vidas, Ozgur, chamava-se ele, ela, Deniz. Ele doente do coração, ela tanto ou mais doente que ele mas da alma que se sabe viver no coração. Uma história sobre o perdão, sobre as palavras mal escolhidas, sobre o arrependimento que fica esquecido como uma cassete que se ouve no fim e faz valer o que se sente, e ressente, 


e não há lugar à desistência, há apenas coincidência e morte. Há a doença do coração que tanto amedronta quem sofre. Morrer em qualquer instante, em qualquer lugar, em qualquer uma das horas. Viver é ultrapassar esse medo, viver é essa clara forma de amar. É digno de Oscar? Não, não é. É digno de ser lembrado muitas vezes. Apenas isso.

Todas as imagens a partir de Love Likes Coincidences.
Música Taken by a Stranger, por Lena.





Bem, que dizer? Talvez começar por sentir as teclas que se tornam em palavras na tela. Georgia, o tipo de letra. Minha tão grande falta. Podia dizer falta de tempo, não foi o caso. Podia dizer falta de coisas belas, mentiria com quantos dentes tenho na boca. Prefiro, assim como quem toma uma decisão consciente, escrever estou de volta e estar de volta depois de escrever estas linhas e falar-vos da alegria de uma primavera em tempos que o frio nos atormenta as pontas dos pés, uma primavera onde nos cantam

The world is not enough
Frustration, mutation, accusation, and provocation
Or just a lack of education
What we need, sustain
Exhale and breathe again
Stop and watch, don’t complain
Hope remains, we still have love (we are back to life)
We are all insane

e onde sabemos que sim. Todos somos, inconscientes, inconsequentes, insanos. Assassinos de corações e ideias. Principalmente aquelas que mais queremos moldar à nossa imagem. Aquelas que queremos que sejam nossas à força da vontade, e como tudo o que é moldado é violado, sujo, mentiroso. A ideia

eu hei-de te amar, ou então hei-de chorar por ti

fi-la minha, nessa Primavera fantástica dos The Gift que me leva para o canto de uma rua que acaba numa parede escura. Onde me diminuo, e choro quase sem fazer barulho. De onde me levanto, por uma tulipa, ou duas, nas minhas mãos e que ofereço ao espelho enquanto lhe canto

Would we play different roles just to live two lives?


Todas as referências a partir de Primavera por The Gift
Música Variações de Primavera II por The Gift
Imagem de autor desconhecido.





Anoitece mas já é escuro, Amy Winehouse canta-me calma e na sua voz deposita toda a tristeza e solidão do mundo, o mundo que hoje viu partir uma das melhores metáforas da liberdade, do coração que tudo sente, da infância perdida, de não querer crescer. Eu amo-a, e vou amar sempre, e gostava de ser tão diferente dela, mas talvez não seja. Don't make no difference if I end up alone.

Referência a partir de Addicted, por Amy Winehouse.
Música Addicted, por Amy Winehouse.
Fotografia, sem autor identificado.