Quente como o calor do sol nas tardes de verão, frio como o gelo do orvalho da madrugada. Cinzento, azul claro, depois vermelho, laranja, castanho, assim  é a história de Mário, ou deverei antes dizer, assim é a história de Diamantina. Num Alto Alentejo, não muito distante no tempo, na era das senhoras e dos senhores, das criadas, dos bolos nos fornos de pedra, nasce Mário, filho bastardo de um dos senhores da terra. Mãe e filho adoptados por uma personagem mágica, regressada de África, cujo amuleto da sorte é um colete de pele de Zebra, passam sem dificuldades e anos mais tarde, fruto da sorte, ou da ocasião, adoptam Diamantina. Depois toda a história gira em torno das memórias de Mário, do amor intenso, sempre escondido e nunca revelado, por aquela que devia amar como irmã.
Rosa Lobato Faria apresenta-nos uma história de amores, de cheiros, de cores, de mouras encantadas e de morte. A morte está presente em todas as obras da autora que li até agora, sempre mágica, sempre construída numa esperança redonda e com contornos de felicidade

Partiu com noventa e dois anos. E com o sorriso mais bonito de todo o Alto Alentejo.

Depois existe toda a complexidade do amor, primeiro o amor de Diamantina por um anjo caído, depois a morte do anjo, depois a riqueza e ganância, um novo amor que iniciou a morte

Cortaste o cabelo, disse eu estupidamente.
O Chico achou que eu ficava melhor.
E eu pensei, tal como Sansão, ela perdera a força.
Foi nesse dia que comecei a morrer.

Toda esta história está envolta numa névoa de magia, como se nunca tivesse acontecido algo igual, e depois como se acontecesse sempre. É uma obra a roçar os limites além beleza, como sempre Rosa Lobato Faria me habituou. Emocionei-me, chorei, senti ódio e no final só conseguia pensar

quando me faltarem as tuas obras, que se será de mim?




Todas as referências a partir de Os pássaros de seda, por Rosa Lobato Faria
Música - Home, por Michael Buble
Fotografia - Autor Desconhecido, por Câmara Municipal de Portalegre



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