«Quando olho para ti, tenho a sensação de estar diante de uma estrela longínqua. Uma estrela muito brilhante, mas cujo brilho foi emitido há dezenas de anos-luz. Pode até dar-se o caso de a estrela já nem sequer existir. O que não impede que essa luz pareça mais real do que qualquer outra coisa.»


Fantasmas, arrependimentos, escolhas. A vontade de refazer o caminho, no entanto, saber que isso desfazia tudo o que é. Tudo o que é agora. Hajime e Shimamoto reencontram-se vinte anos depois de se terem separado, separados com a mesma inocência com que se encontraram pela primeira vez.  Entre os dois, uma música, «South of the Border, West of te Sun», tema de Nat King Cole que dá título ao romance.  Ambos caminham nos labirintos da solidão, porém, Hajime encontra o amor, ou uma amizade, um qualquer afecto e casa-se.  Constrói dois  bares de jazz a seu gosto, questionando sempre o que procurariam os clientes nele. De Shimamoto, nada se sabe, reaparece assim como uma aparição no bar de Jazz de Hajime. Bela, sinistra, como quem anda a leste do Sol.

«Dia após dia, à força de passares a vida a ver o Sol levantar-se a leste, cruzar os céus e afundar-se a oeste, sentes que qualquer coisa dentro de ti se quebra e morre. Pôes de parte o arado e, sem pensar em nada, com a mente vazia de pensamentos, pôes-te a caminhar em direcção a oeste. Rumo a uma terra que fica a oeste do Sol.»


Por ora, outra aprazível mulher emerge do romance apontado o dedo a Hajime, ou aos leitores.


«Sinto-me perseguida pelas coisas que abandonei. Não és o único acossado. Desengana-te. Não és o único que abandonou alguma coisa, que perdeu alguma coisa.  Um dia, pode ser que voltes a ferir os meus sentimentos. E não sei como irei reagir nesse momento. Ou, se calhar, da próxima vez posso ser eu a fazer-te mal. Não te prometo nada.»



Todas as referências a partir de A Sul da Fronteira, A Oeste do Sol, por Haruki Murakami
Fotografia Sem Título, autor desconhecido.
Música Mona Lisa, por Nat King Cole.



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